Agencia Cultural do SEBRAE

quinta-feira, julho 27, 2006

BANDEIRAS



“A cidade do Natal, fundada no século XVI, nasceu no século XX. Os intermediários são períodos de história guerreira, política ou dorminhoca. Faz de conta que não existiu.”
Luís da Câmara Cascudo

Praça Augusto Severo, Ribeira
Praça Augusto Severo, Ribeira

Natal: a cidade das bandeiras (dos outros)

Quem conhece a bandeira da nossa cidade Natal? Este questionamento merece uma reflexão. Temos avenida com bandeira, travessa com bandeira e até o bar das bandeiras. Mas nada que lembre ou homenageie o nosso próprio símbolo.

Não encontro sinais que apontem a valorização ou o incentivo ao conhecimento de nossa bandeira. A maioria da população não conhece ou não se lembra da bandeira que representa a nossa cidade. Será que essa flâmula é tão sem beleza ou desprovida de elementos de identificação que não enseje a sua lembrança? Será que pelo menos em cada 19 de novembro - o dia da bandeira -, a bandeira da nossa cidade tem sido hasteada em nossos próprios espaços urbanos? Aliás, a esta altura da vida, penso que a maioria de nossos conterrâneos sequer se recorda mais da existência desta data.

Bem que a nossa cidade, tão charmosa, com um povo tão amável e hospitaleiro, privilegiada com o ar mais puro das Américas, poderia se firmar como a cidade das bandeiras. Será um grande devaneio ou esta proposição poderia resultar na criação de um grande diferencial de marketing? É, sem dúvida, um caso a se estudar. Imaginem a cidade com a nossa bandeira tremulando alegremente em suas janelas, varandas e mastros, a chamar a atenção das pessoas que nos visitam, das nossas crianças, jovens, idosos e de todos os que por aqui passam. Poderíamos transmitir, com esse sinal, para os habitantes e visitantes, um aceno de alegria e uma demonstração da consciência de cidadania. Não se vê, a propósito, tantos eventos e festas que utilizam bandeiras como uma técnica eficaz de divulgação e atração para o público?

A reflexão que se faz surge no momento em que Natal vive a realidade plena da expansão turística, identificando, cada vez mais, bandeiras de muitas nacionalidades - Portugal, Espanha, Itália, Dinamarca, Suécia, Noruega, entre outras -, notadamente, na Via Costeira e na Praia de Ponta Negra. Observa-se, inclusive, até mesmo o uso de adesivos em forma de bandeira nos pára-choques dos veículos, predominando, evidentemente, as de outros países. E a nossa bandeira? Ponta Negra não mais pertence ao município de Natal? Não fabricam mais a nossa bandeira? São muitos os questionamentos sobre o assunto, como se vê.

Certamente que esse conjunto de bandeiras à vista em nossa cidade indica a constante presença de turistas e cidadãos de origem estrangeira que aqui encontraram, acima de tudo, calor humano, qualidade de vida, belezas naturais e oportunidades de investimento, procurando, assim, destacar as suas raízes e valorizar a memória e a presença das suas respectivas origens. Tudo muito legítimo, até mesmo como forma de amenizar as saudades e despertar nos patrícios o sentimento de acolhida sem a perda dos laços com a terra distante.

O que nos chama atenção é a inconcebível falta de interesse da sociedade em promover a nossa brasilidade, ou mesmo a nossa municipalidade, abrindo-se mão de se ter um diferencial legítimo, com a preservação de inestimáveis valores representativos da nossa comunidade. Isto não significa nenhuma postura contrária ou avessa aos ares da globalização, mas sim um alerta, a sinalizar para a perda contínua de nossa identidade.

O que fazer então? Continuamos da mesma forma, sem nos preocupar com a predominância das bandeiras de outras terras? Devemos pensar, por exemplo, em iniciativas para uma maior utilização e valorização de nossa bandeira nas repartições públicas municipais, ou poderíamos criar uma campanha para conscientizar e motivar a população sobre a importância dos nossos símbolos? Quais seriam outras iniciativas possíveis para atingir esse objetivo? Enfim, desejamos chamar a atenção de todos para o esquecimento de importantes símbolos da nossa própria história e cultura - como é exemplo a bandeira -, numa tentativa de promover a discussão e buscar possibilidades de se preservar o saudável hábito de valorizar e utilizar as nossas marcas.

Eduardo Viana
Agência Cultural SEBRAE / SESI

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